Trabalho escolar sobre o tema, realizado em 2008.

INTRODUÇÃO

Segundo J. ZULLO JR. (2005), a geada, no domínio popular, ocorre quando há a ocorrência de deposição de gelo sobre plantas e objetos expostos ao relento. Em meteorologia define-se como uma condição de ocorrência provisória de estados de baixa energia, ocorrendo toda a vez que a temperatura da superfície atinge zero ºC. Na agronomia entende-se por fenômeno atmosférico que provoca danos às plantas em função da baixa temperatura, que acarreta congelamento dos tecidos vegetais, ou plasmólise.

Segundo Melo-Abreu (2008) As geadas ocorrem quando uma massa de ar é substituída por outra mais fria (geadas de advecção), ou quando há acentuado arrefecimento noturno, resultante principalmente da falta de nuvens e concomitante baixo valor da radiação da atmosfera (geadas de radiação). Neste caso, em que o balanço noturno da radiação é muito negativo e há pouco vento, o ar vai arrefecer por baixo, em contacto com a superfície fria, e como a agitação do ar é baixa, esta perda de calor vai fazer-se sentir até a uma altura que não cessa de aumentar durante a noite de geada.

Dentro da camada de ar que é arrefecida pela superfície, a temperatura sobe em altura (i.e., dá-se uma inversão térmica), o que contrasta com o que acontece durante o dia na troposfera, em que a temperatura desce com a altura acima da superfície.

TIPOS DE GEADAS

Geada Branca

É a geada de radiação, com deposição de gelo sobre as plantas e a típica coloração branca sobre a vegetação. Acontece em noites sem nebulosidade e sem vento. Após o congelamento do orvalho, com a contínua perda de temperatura, o vapor d’água do ar em contato com a superfície fria passa diretamente para o estado sólido, depositando-se sobre a planta, daí a coloração esbranquiçada característica.

Geada Negra

Ocorre quando o ar está muito seco e o resfriamento na superfície vegetal é muito intenso, fazendo com que o frio queime completamente as folhas e congele a seiva. Neste caso o ponto de orvalho é mais baixo que a temperatura negativa letal atingida pelos órgãos vegetais. Não se deve confundir geada negra com geada de vento, pois esta é causada por ventos frios, caracterizada por queimar apenas uma face da planta.

Geada de Canela

Em noites estáveis, com o resfriamento intenso devido à perda de calor para o espaço, o ar frio, por ser mais denso, acumula-se próximo à superfície, formando um gradiente, denominado de inversão térmica, por ser justamente a condição contrária do que ocorre durante o dia. Assim, a temperatura mínima próximo à superfície pode atingir valores negativos, enquanto próximo à copa dos cafeeiros os valores podem ser 3 a 4ºC mais elevados. Quando a temperatura junto ao tronco cai abaixo de -2ºC ocorrem danos aos tecidos externos que podem levar a planta à morte. Este dano é denominado de “geada de canela” ou “canela de geada”.

Geadas Quanto à Freqüência

As geadas severíssimas ocorrem 3 vezes por século e provocam danos severos em grandes regiões. As severas ocorrem em média a cada 6 a 10 anos afetando as produções dos anos vigentes e subseqüentes (ex. 1979,). As moderadas ocorrem em média a cada 3 ou 4 nos provocando danos superficiais e geada de canela (J. ZULLO apud A.P. CAMARGO).

MÉTODOS DE PREVISÃO DAS GEADAS

Através da observação dos fenômenos que precederam as grandes geadas do último século, foi possível a criação de sistemas de alerta com antecedência de dias ou horas baseados em todos os mecanismos que favorecem, por exemplo, o avanço das massas de ar polar no continente sul americano.

O período de inverno é o mais estudado na literatura e julho é o mês mais significativo. Durante o período maio-setembro, toda a Região Sul sente os efeitos típicos do inverno. Sucessivas e intensas invasões de frentes de altas latitudes trazem, geralmente, chuvas abundantes seguidas por massas de ar muito frio. A entrada dessas massas é acompanhada de forte queda de temperatura que atinge valores pouco superiores a 0C, e não raramente chega a temperaturas negativas, proporcionando a ocorrência de geadas (Nimer, 1979).

Parmenter (1976) analisa a geada ocorrida em julho de 1975, na América do Sul. Ele descreve a entrada de um sistema frontal pelo Chile e Argentina o qual nove dias depois atravessa o Equador, na Venezuela. Com a entrada da massa de ar polar, atrás do sistema frontal, as temperaturas baixaram muito em todo o Brasil, incluindo a região central do País.

Tarifa et al. (1977), descreveram também a situação dos danos causados pela geada de 1975 à cafeicultura no Estado de São Paulo. O principal resultado descrito é: o grau de resfriamento na superfície, que está associado à posição e à intensidade do centro do anticiclone polar. No Estado de São Paulo a pressão mínima foi 1028 hPa e a máxima foi 1030 hPa. Este episódio ocorreu na periferia do anticiclone polar e não no seu centro como era esperado por ser a área de maior calmaria e limpidez da atmosfera.

Muitos outros trabalhos citam os danos causados por geadas no Brasil tais como Ometo (1981), Almeida e Torsani (1984), Almeida et al. (1982), Fortune (1981). O episódio de geada que ocorreu em 1979 foi estudado por Fortune (1981). Os objetivos eram buscar sinais no Oceano Pacífico, que pudessem dar indicações para uma previsão de geadas; acompanhar as condições especiais que permitem a profunda penetração de ar frio no país e obter mapeamento das temperaturas vistas nas imagens de satélites. Os resultados mostraram que uma onda longa do Pacífico amplifica-se, fornecendo um sinal da provável ocorrência de geadas no sul do Brasil com 3 a 4 dias de antecedência.

No Brasil, destaca-se o trabalho do IAPAR (Instituto Agronômico do Paraná) com seu serviço “Alerta Geada”, desde 1995, em parceria com a EMATER, disponibilizando boletins por e-mail ou via telefone para agricultores sobre a possibilidade da ocorrência do fenômeno, aliado a instruções e procedimentos para as culturas afetadas conforme o estágio da planta. O serviço é gratuito e funciona de maio a setembro.

DANOS CAUSADOS POR GEADAS

Os danos por frio variam de acordo com a cultura; cada espécie tem sua própria temperatura letal. Deve-se notar ainda que algumas plantas sofrem dano mecânico por conta do peso do gelo.

Queima Superficial

É quando somente as folhas e pontas de ramos são levemente queimados, com os ramos continuando vivos e também as folhas localizadas na parte interna da planta.

Queima Parcial

Já é uma queima um pouco mais intensa, normalmente atingindo folhas e ramos da parte superior da planta, sem atingir o tronco. É comumente denominada de “capote” e sem dúvida compromete a safra do ano agrícola seguinte.

Queima severa

É quando acontece uma queima intensa de folhas e ramos, chegando muitas vezes a atingir grande parte do tronco dos cafeeiros, provocando a morte dessa área. Este tipo de queima compromete totalmente a safra futura.

Estrangulamento do Caule – Cultura do Café

Aparece apenas em cafeeiros novos, ainda sem “saia”, devido ao acúmulo do ar frio entre a copa da planta e o solo.

Essa lesão no tronco, logo abaixo dos primeiros ramos dos cafeeiros, causa a morte dos tecidos da casca e interrompe o fluxo da seiva elaborada que vai alimentar o sistema radicular. Com o enfraquecimento e até morte de parte do sistema radicular, na parte aérea surgem sintomas de deficiências  nutricionais. A tendência da planta é emitir brotação logo abaixo do local da lesão.

Muito embora essa lesão ocorra por ocasião da geada, principalmente em cafeeiros novos localizados em baixadas onde há acumulação de ar frio, somente alguns meses depois é que se começa a notar sintomas de deficiências na parte aérea dessas plantas. O efeito não é generalizado na lavoura, aparecendo em “reboleiras”, ou seja, em plantas dispersas pelo cafezal.

A evidência da lesão pode ser constatada raspando-se a casca das plantas suspeitas, que mostrarão a casca seca e até um pequeno “estrangulamento” no local, quando abaixo disto, o caule continua totalmente verde e em condições de brotar (THOMAZIELO).

TÉCNICAS DE PREVENÇÃO AOS DANOS POR GEADAS

Segundo MELO-ABREU (2005), os métodos de prevenção às geadas podem ser indiretos (passivos) ou diretos (ativos).

São métodos indiretos a seleção do local e melhoramento, a utilização da espécie ou variedade adequada ao local de plantio escolhido bem como a época adequada ao desenvolvimento.

A seleção do local de cultura visa o escoamento do ar frio para as áreas de menor cota, a possibilidade da existência de massas de água (diminuidoras da freqüência de geadas), proximidade de grandes massas rochosas ou sebes vivas (diminuem a taxa de arrefecimento das superfícies próximas), a influência do tipo de solo na freqüência e severidade das geadas e as paisagens (obstáculos ao escoamento do ar e fontes de ar frio).

São métodos diretos as coberturas, nevoeiros artificiais, aquecimento direto do ar, rega por aspersão e ventilação forçada, todos estes visando diminuir os efeitos durante a ocorrência da geada.

As coberturas possuem diferentes recomendações quanto ao tipo de cultura. Os filmes plásticos, populares na olericultura, não podem ser usados para a cobertura de uma árvore, neste caso recomenda-se o uso de tecidos (BRADLEY, 1998).

A Serragem Salitrada no Combate À Geada

Segundo CAMARGO, a combustão da serragem salitrada constitui um dos meios mais práticos e baratos de obter, artificialmente, a turvação atmosférica para o combate à geada de irradiação, que é a única forma de manifestação severa do fenômeno em São Paulo. Essa mistura neblígena foi desenvolvida pelos técnicos da “Comissão de Estudos para a Defesa contra a Geada” do Paraná e tem o mérito de utilizar matéria prima de fácil obtenção, podendo ser preparada, sem dificuldade, na própria fazenda. A eficiência do uso da serragem salitrada no combate direto às geadas depende fundamentalmente das condições ambientes no momento da aplicação. Bons resultados são muito difíceis de serem obtidos, motivo pelo qual o método deixou de ser recomendado há alguns anos. Portanto, a tentativa de uso é de responsabilidade exclusiva do interessado.

IMPACTOS ECONÔMICOS

Os danos causados às mais diferentes culturas na região sul do Brasil são de grande monta, mesmo em anos sem a ocorrência de geada severa, por quebra na produção e desvalorização dos produtos. Ainda que a contabilidade total das perdas por municípios e estados por vezes não alcance um número significativo (Ex. 15%) o prejuízo é bem pontual, sendo que alguns produtores podem ter perda total, afetando gravemente a economia de localidades distintas.

Segundo o site Portal do Agronegócio, as perdas na segunda safra de milho paranaense (2008) alcançam a 1,3 milhão de toneladas, cerca de 19,24% em relação à produção inicialmente esperada. As geadas foram de intensidade moderada a forte nas regiões oeste, centro e sudoeste do Estado, com perdas mais acentuadas nas seguintes regiões:

Campo Mourão (302,9 mil toneladas – 25,7%), Cascavel (398,6 mil toneladas – 39,8%), Francisco Beltrão (37,5 mil toneladas – 17,2%), Maringá (159,0 mil toneladas – 22,3%), Toledo (406 mil toneladas – 24,6%).

A GRANDE GEADA DE 1975 NO PARANÁ

No dia 18 de junho de 1975 o norte do estado do Paraná foi atingido por uma geada que dizimou por completo a produção de café. O episódio é conhecido até hoje como a “Grande Geada Negra do Paraná”. A colheita da safra já estava encerrada quando aconteceu o fenômeno, sendo de 10,2 milhões de sacas ou 48% da produção brasileira. No ano seguinte, a produção foi de 3,8 mil sacas, deixando o estado, antes líder mundial de produtividade, totalmente fora da produção nacional. Dados do INMET (Instituto Nacional de Meteorologia) apontam que na mesma época, uma seqüência assustadora de geadas ocorreram em toda a Região Sul, além dos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso do Sul e até no sul e oeste de Mato Grosso e sul de Rondônia.

A potente onda de ar frio de 1975 atravessou completamente a linha do Equador levando queda de temperatura em Estados como Amazonas e Roraima. No continente sul-americano, durante o inverno, a insurgência de ar polar em algumas situações adquire características peculiares com a formação de um centro de alta em níveis baixos e médios, denominado Poço dos Andes, que é o principal indicador da ocorrência de geadas.

CONCLUSÃO

Mesmo sendo um fenômeno que provoca danos econômicos por vezes irreparáveis, prejudicando diversas cadeias de produção, o combate às geadas e o melhoramento das ferramentas para a previsão mais acertada ainda são incipientes no país. Se uma parcela dos prejuízos previstos nas quebras fosse investida em mais estações meteorológicas, programas de incentivo ao plantio correto, financiamento para estufas e equipamentos de proteção com tecnologias diversas a agricultura não seria tão vulnerável ao fenômeno.

BIBLIOGRAFIA

ZULLO, Jurandir. Desastres Naturais e Agricultura. In: FÓRUM PERMANENTE DE ENERGIA & AMBIENTE, 2007.

MELO-ABREU, João Paulo De. Previsão da Ocorrência de Geada e de Geladura. In: JORNADAS TÉCNICAS “A IMPORTÂNCIA DA METEOROLOGIA NA AGRICULTURA”, 2008. Beja, Portugal.

BRADLEY, Lucy. FROST PROTECTION, University of Arizona, 1998.

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