A ivermectina ganhou destaque no mundo inteiro com a pandemia do coronavírus. Há quem defenda o uso como tratamento precoce no combate ao vírus e sua distribuição (ou não) chegou a pautar as campanhas eleitorais de 2020 no Brasil. Segundo a Gazeta do Povo, jornal do Paraná, prefeitos que distribuíram Ivermectina como forma de prevenção à Covid-19 foram reeleitos.
Quem é do agro conhece a ivermectina desde muito tempo. O antiparasitário usado no gado, equinos, suínos e em algumas raças de cães foi descoberto por japoneses (retirada de uma bactéria que vive no solo nos anos 70 e foi considerado uma droga revolucionária nos anos 80, sendo o Ivomec injetável o medicamento veterinário mais lucrativo do mundo na época.
Enquanto lucrava muito no mundo veterinário, a Merck (detentora da patente até 1996) também reconheceu o uso para humanos e fez doações significativas do medicamento para países da África combaterem a Oncocerose (Cegueira do Rio), em parceria com ONGs e a Organização Mundial da Saúde. Toda essa filantropia foi financiada com os lucros do Ivomec. A WHO chegou a publicar um boletim em 2004 chamando o tratamento em massa com ivermectina “uma estratégia de saúde pública pouco utilizada”. Um estudo realizado no Brasil é citado no documento.
O uso em humanos do Mectizan (nome comercial nos EUA) para o combate da cegueira do rio foi anunciado em 1987, sete anos depois de testes clínicos realizados no Senegal. Em 2001, o programa de doações da Merck estava ativo em 33 países da África subsaariana, América Latina, Yemen e Oriente Médio, tratando 25 milhões de pessoas anualmente e com meio bilhão de comprimidos administrados.
A ivermectina é apontada como uma das medicações mais importantes do mundo, ao lado da penicilina e da aspirina, de inegável sucesso para salvar ou melhorar a vida de milhões de pessoas atacadas por diversos tipos de parasitas. Se entrará para história como importante combatente na pandemia do COVID-19, só o tempo poderá dizer. Seria ótimo.
Curiosidade: a descoberta e a longa jornada de uma amostra de solo japonês
A história de como a ivermectina foi descoberta é incrível. No final dos anos 1960, Satoshi Ōmura, um microbiologista do Instituto Kitasako de Tóquio, estava procurando novos compostos antibacterianos e começou a coletar milhares de amostras de solo de todo o Japão. Ele cultivou bactérias das amostras, examinou as culturas quanto ao potencial medicinal e as enviou a 10.000 km de distância para o Merck Research Labs em Nova Jersey, onde seu colega, William Campbell, testou seu efeito contra vermes parasitas que afetam rebanhos e outros animais. Uma cultura, derivada de uma amostra de solo coletada perto de um campo de golfe a sudoeste de Tóquio, foi notavelmente eficaz contra vermes. A bactéria da cultura era uma espécie nova e foi batizada de Streptomyces avermictilis. O componente ativo, denominado avermectina, foi modificado quimicamente para aumentar sua atividade e segurança. O novo composto, chamado ivermectina, foi comercializado como um produto para a saúde animal em 1981 e logo se tornou um medicamento veterinário mais vendido no mundo. Surpreendentemente, apesar de décadas de pesquisas, S. avermictilis continua sendo a única fonte de avermectina já encontrada.
Extraído de Ivermectin: From Soil to Worms, and Beyond, do Barcelona Institute for Global Health.
Para saber mais
Ivermectin, ‘Wonder drug’ from Japan: the human use perspective.
Ivermectina (Wikipedia)