O Blog do Farmfor é um site com notícias e informações agrícolas que raramente sai do tema. De qualquer forma, acreditamos que no futuro poderá existir um nicho de agricultores produtores de energia que poderão entrar no ramo de mineração de criptomoedas, aproveitando o excedente gerado por biodigestores, energia solar ou biomassa, por exemplo. Como minerar chia vem trazer detalhes sobre uma nova moeda digital que usa (ironicamente) termos bem conhecidos do mundo da agricultura para explicar suas etapas de trabalho.
Mineração de criptomoedas
Atividade em alta, a mineração de criptomoedas reúne adeptos de todos os “tamanhos”, desde indivíduos que dedicam algum tempo livre para ganhar uns trocados com seus computadores até corporações gigantescas que investem e faturam milhões de dólares.
Muito basicamente, o sistema de moedas digitais depende de complicados cálculos para manter a sua integridade, realizados em rede por milhões de dispositivos no planeta. O que seria exclusividade de grandes e poderosos computadores, hoje em dia pode ser feito em casa devido ao grande poder de processamento das desejadas placas de vídeo, até então necessárias para quem gosta de jogar no computador alguns títulos que exigem muito processamento.
Rig de mineração: computador ligado com várias placas de vídeo em paralelo fazendo cálculos 24 horas por dia: dependendo do modelo da placa, uma unidade assim pode render até R$ 20 mil por mês para o “minerador”, depois de um gasto de R$ 2500,00 com energia elétrica (cálculos tendo por base 12 placas RTX 3090 segundo o site Nicehash).
Tanta procura por placas inflacionou o mercado e os preços dos modelos mais potentes (compatíveis com a atividade) subiram mais de 100% nos últimos meses. Mesmo assim, deixar o computador ligado em casa para fazer estes cálculos ainda pode render um bom dinheiro por dia, capaz de pagar o investimento da placa em 9 meses, descontados os gastos com energia elétrica.
E é a energia elétrica o diferencial para este “nicho do futuro” que imaginamos na agricultura. Na cidade, o kw hoje chega a R$ 1,00 em média, impactando no lucro obtido na mineração de criptomoedas. Quem tem energia gerada na propriedade e de sobra, sai em vantagem. Cooperativas com problemas de dejetos de suínos poderiam fazer do limão uma limonada e investir na geração com biodigestores, alimentando os computadores que vão fazer os cálculos, de forma autônoma ou em parceria.
Como minerar Chia
A Chia é uma nova moeda digital (tecnicamente uma plataforma de blockchain e transações inteligentes) lançada recentemente. Sua documentação está presente no site oficial. Em relação a outras plataformas que pagam para usuários fazerem cálculos com suas placas de vídeo, a Chia paga para que os mesmos criem largos arquivos digitais e que deixem os mesmos armazenados nos discos rígidos dos seus computadores.
Os arquivos gerados são “apelidados” de terrenos (plots) que ficam armazenados para posterior colheita pelo sistema, que entra no computador do participante, faz algumas checagens e dá uma recompensa pelo trabalho. O ganho vai depender da quantidade de arquivos armazenados no computador.
Para começar a minerar Chia (melhor dizendo, fazer o farming), basta entrar no site do projeto, baixar um programa, executar no computador e criar a sua identidade única, uma chave composta de diversas palavras em sequência. Depois, é preciso começar o longo processo de criar e armazenar os plots.
Se a mineração com placas de vídeo exige modelos mais caros, o trabalho com a Chia também tem suas particularidades. A criação dos plots exige um bom computador com um SSD rápido. Apenas um arquivo tem o incrível tamanho de 100 gigabytes em média (um típico hd de notebook tem 500 gigas). O programa cria um arquivo de forma temporária no SSD e transfere depois de pronto para o HD “normal”.
Meme: quem tem pouco HD é um “sem terra” no mercado da Chia (é uma piada, obviamente).
Aqui começam os problemas para o usuário comum: os SSDs (aqueles discos de estado sólido super rápidos disponíveis hoje em dia) possuem um limite de gravação de dados definido pelo fabricante conforme o modelo, atrelado ao período da garantia. Mais ou menos como um carro com garantia por kilometragem ou também por tempo. Se usar demais, perde o desempenho ou estraga de vez. A geração de um único plot de 100 gigas gera um volume de escritas no SSD de até outros 1500 gigas.
Segundo problema: para ter chance de ganhar alguma grana, o usuário precisa deixar o micro sempre ligado com internet e também ter muitos plots, o que significa colocar um ou mais computadores gerando os arquivos em paralelo. Um bom computador pode gerar 5 plots em paralelo e esta operação dura cerca de 5 horas. Ao final do dia, serão mais ou menos 27 plots gerados, com incríveis 43 terabytes de dados escritos e apagados no SSD temporário.
Em suma: SSDs para uso doméstico não aguentariam o tranco, é preciso adquirir unidades especiais, para trabalhos pesados. Quem arrisca, deve estar preparado para queimar alguns SSDs no processo.
Guardar estes arquivos com segurança (depois de todo este trabalho, você não quer perder tudo por conta de falhas em um HD) é preciso um bom computador, com vários discos em paralelo, de grande capacidade, em um ambiente bem refrigerado e com bons componentes, especialmente a fonte. Comprar este monte de HDs custa caro. No mundo dos computadores para empresas – os servidores – modelos assim custam verdadeiras fortunas em empresas como a Dell, mas é possível montar uma versão com a maioria das peças adquiridas em lojas de informática ou no mercado livre. Foge ao escopo deste texto dar mais especificações técnicas, mas recorremos a alguns sites e chegamos nestes preços para modelos de exemplo + um nobreak compatível. Ao lado, o retorno mensal da mineração (não é para sempre, o valor vai diminuindo) com um hipotético valor da moeda sendo negociada a US$1000,00 (no momento da edição deste texto, está a US$ 634 e já esteve cotada por mais de US$ 1900,00 logo que foi lançada no mercado). O dólar é de R$ 5,40.
Computador com 28 TB em discos: R$ 25.000,00 – renda mensal de R$ 26.190,00.
Computador com 56 TB em discos: R$ 38.400,00 – renda mensal de R$ 52.434,00.
Computador com 98 TB em discos: R$ 47.200,00 – renda mensal de R$ 91.746,00.
Os modelos possuem 8 HDs em RAID e componentes selecionados, além de um SSD dos mais caros. Mais uma vez, são apenas modelos de exemplo, calculados conforme a disponibilidade de peças no mercado. Vale lembrar que, assim como a mineração em placa de vídeo inflacionou o componente, há quem diga que os HDs e SSDs ficarão mais caros nos próximos meses por conta da Chia.
Os erros mais comuns de quem entra na mineração (de qualquer tipo)
Não contar com depreciação (não colocam no custo o desgaste das peças, seguro e outros ploblemas, além da compra de peças de backup).
Não proteger os computadores de redes elétricas ruins com bom aterramento, protetores de surtos e contra raios, bons no-breaks.
Iniciar a atividade em locais com a energia elétrica cara demais (para a turma da placa de vídeo, já que a mineração da Chia não gasta tanta energia).
Iniciar na atividade sem conhecimento técnico ou pelo menos com a ajuda de quem entende.
Contar com a sorte. A remuneração da atividade se dá através de moedas digitais, que flutuam no mercado e poderão ficar com uma cotação que impede o retorno do investimento. Invista sempre o dinheiro que você acha que pode perder. É um investimento de risco!
Considerações finais
Nós aqui no blog não vendemos máquinas, não prestamos consultoria em geração de energia em propriedades, criptomoedas, mineração ou instalação de máquinas para o trabalho. Este texto é apenas para enriquecimento cultural da nossa audiência.
Sites úteis e referências
Chia Calculator – site que diz quanto você poderá ganhar em dólar, de acordo com o número de arquivos que conseguiu gerar.
Proof of Stake e Proof of Work – as diferenças entre os sistemas que trabalham com placa de vídeo e os co discos rígidos na mineração.
Cotação da Chia no CoinMarketCap.
Informações básicas sobre o funcionamento de SSDs no Tecnoblog (antigo, mas serve de base para mais estudos).
Por final, o Youtube: diversos canais já estão dedicando longos vídeos para a atividade.